segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Casas pequenas, corações desabitados.

Estive pensando o seguinte: aprendi na escola que o Brasil é o quinto maior país do mundo, com 8.515.767,049 Km quadrados, segundo a última estimativa do IBGE (cresceu 0,001%, diga-se de passagem).


Se afirmarmos que só 3% do país poderia ser ocupado com residências, restaria 255.473,01147 km2, deixando 97% da área para florestas, estradas, portos, praças, indústrias, fazendas agroexportadoras, night clubs ou qualquer outra coisa que não seja uma casa.


Considerando que cada Km2 tem um milhão de metros quadrados, isso seria 255.473.011.470,00, ou seja, 255 bilhões de metros quadrados.


Considerando uma população de aproximadamente 200 milhões de pessoas dividida em famílias de três membros, seria 66.666.666,66 famílias no Brasil. Dividindo a área de 3% da área total pelas famílias, daria 3.832 metros quadrados por família no Brasil.


Então por que cargas d'água as pessoas fazem casas umas sobre as outras, em área de 300 metros quadrados em média (ou menos, bem menos...)? Será a genética portuguesa? Será a falta de infraestrutura de transporte ou preço exorbitante de mover-se por aqui, fazendo que as pessoas tenham necessidade de aglomerar-se? Segurança?


Pergunto também o seguinte, sem querer extrapolar na argumentação: alguém acha normal um terreno urbano normal de 300 metros quadrados, ou seja, 10x30 metros, custar 200 mil reais (ou 10 vezes isso, dependendo de onde)? Ora, esse mesmo terreno custava 20.000 reais a 10 anos. Seria normal uma valorização desta natureza ou fruto de uma bolha aditivada por crédito fácil e de alto risco?


Época estranha essa, onde as pessoas não tem espaço, tempo ou paciência e nem sequer pensam sobre isso. Algo está profundamente fora da ordem e isso não é mistério para ninguém. Veremos a luz no fim do túnel ou só estamos entrando nele? 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A era da vaidade virtual - O Facebook e o facebookcídio



Começo este pequeno artigo pelo fim: optei pelo Facebookcídio. Este suicídio virtual foi quase tão doloroso quanto imagino ser o real. Sofri a incompreensão de todos que diariamente encontrava na telinha. Houve gritos histéricos acusando-me de maluco, excêntrico e antissocial, chegando até aos extremos de sentenciarem que não teria mais amigos desta forma.

Sou de um tempo em que amigos eram gente de carne e osso. Nascido e crescido no interior de Minas Gerais, onde a interação era uma constante e o perigo inexistente, nunca precisei pensar muito sobre isso. A amizade ou a inimizade eram como o chão: simplesmente existia sem que tivéssemos que elaborar complicadas teorias acerca do tema. 

A praça era o ponto nevrálgico de todas as relações:  laços eram feitos e desfeitos, conspirações eram elaboradas e lá mesmo morriam, paqueras floresciam e sucumbiam, fatos viravam notícia e se espalhavam como pólvora no telefone sem fio das conversas. Havia os amigos e os amigos dos amigos, sem uma distinção muito clara entre os dois tipos. O grupo expandido englobava a todos, sem distinção, por meio de similaridades e empatias próprias do nosso micromundo.

Mas o tempo passa, o tempo voa e nem a poupança  Bamerindus continua numa boa. Aquele colega super legal cuja vida estava inevitavelmente atrelada à sua sumiu no mundo, inicialmente pra fazer faculdade e depois em definitivo. Passados anos, surge a dúvida de que a existência dele realmente é concreta ou é um daqueles truques da sua mente para entretê-lo nas horas de folga. O sólido vira vapor sem passar pelo estado líquido.

Depois do advento da internet houve a possibilidade do religare entre o passado e  o presente,  inicialmente através do Orkut e atualmente pelo Facebook. Aquele sujeito que sentava no fundo da sala na terceira série primária e cujo nome já estava guardado dentro do mais profundo recôndito do seu sistema nervoso subitamente se torna companheiro de vida, com  intimidade suficiente pra saber tudo sobre você, sua família e seus hábitos.

Passado o júbilo do reencontro, surgem as perguntas inevitáveis :  será amigo aquele que nunca lhe procurou em 30 anos, nem sequer pra saber se estava vivo? Será possível alguém ter dois mil amigos enquanto muitos se dariam por satisfeitos se tivessem dez? Será amigo/amiga todo mundo que você entrou em contato na vida? Seria positivo expor sua vida e suas opiniões ao crivo de tanta gente, muitos dos quais nem sequer lhe dão bom dia ao topar com você na rua?

O que mais me incomodava, porém, é o contato com o  exercício diário da vaidade e da auto-propaganda. Não importa mais o que você é e sim como aparenta ser. Vivemos a era do culto à vaidade. Pessoas sorridentes, postando fotos de viagens e comemorações sem fim são a máxima do novo mundo. O chamado selfie é o ponto culminante: o sujeito perde horas para conceber uma imagem com ele ao centro, geralmente para realçar os músculos, o iphone caríssimo e o auto-sucesso da aparição. O Facebook é a revista Caras dos pobres e não famosos.

Fui embora e não me arrependi. Não tive tremores ou convulsões, choques de identidade ou auto-afirmação. Perdi contatos virtuais pra ganhar contatos reais. O duro é que toda vez que conheço alguém vem sempre a famosa frase: -Vou te adicionar no facebook! Valei-me Deus até a próxima rede social. E que seja menos eterna que essa. 

domingo, 28 de abril de 2013

Os músicos e o dilema Tostines

Nunca entendi bem as qualidades  necessárias para alguém se tornar músico. Sensibilidade, ouvido, talento, estudo e teimosia  - ou tudo junto -  parece a resposta mais evidente. Apesar de haver uma propensão de músicos, em geral, serem filhos e netos de músicos, conheço uma miríade deles que são descendentes de indivíduos incapazes de identificar a diferença entre um dó e um mugido de vaca. E mesmo assim se tornam excelentes músicos, como uma geração espontânea.

Não é necessário, aliás, qualquer tipo de instrumento pra se tornar músico. Com a óbvia exceção dos cantores, que já trazem da natureza a seu próprio instrumento, seria justo dizer que não há flautista sem flauta ou baterista sem bateria. Mas há: certa vez notei, em um acampamento na selva amazônica, um dos guias tocar as cordas da rede de dormir com enorme destreza como se fosse um baixo Fender, enquanto um outro solava um trombone imaginário, com direito a dancinha e tudo. Havia ritmo, melodia, harmonia, tudo, ainda que limitado ao possível naquelas circunstâncias.

Há também uma característica intrínseca aos músicos: a excentricidade. É o dilema Tostines: será que se tornam músicos por serem excêntricos ou é a excentricidade que os torna músicos? Pegue qualquer músico- mesmo aquele engravatado da orquestra sinfônica da sua cidade - e a excentricidade estará lá. Não falha. Pode estar escondida, mas estará lá pra eclodir ao menor estímulo.

Músico de verdade ouve o mundo de forma diferente. Há aqueles com o chamado ouvido absoluto:   - Tá ouvindo o trem? Fá sustenido puro! Isso para um leigo é demais, simplesmente não dá pra compreender. E quando eles riem sozinhos? Estarão rindo da genialidade própria, de um erro grosseiro não detectado pela massa ignorante ou de simplesmente ter pulado uma parte da música pra adiantar o final do expediente? Vai saber.

Para os pobres mortais não dotados de  habilidades musicais,  resta  o desejo de ser presenteado na próxima encarnação com esse algo mais.  Nem que seja só pra humilhar o vizinho do lado ou impressionar a gatinha do 320.  Já me imagino argumentando no departamento celestial da liberação de talentos natos (DECELITANA): -Chefia, o que eu queria mesmo é ter o talento do Ray Charles com a cara do Marlon Brando. Bem básico, é só apertar estes botões aí.  E cuidado pra não confundir e me soltar lá com a musicalidade do Marlon Brando e a cara do Ray Charles. Pelo amor de Deus!

(Estive afastado por um longo período, fruto de um misto de pouco tempo com muita preguiça. Abraço pra vocês. Prometo ser mais regular por aqui).



quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Os Yanomami e a grande tela branca

     No final da década de noventa voltei ao mundo indigenista pra trabalhar em uma ong  voltada à assistência médica dos Yanomami. Cuidávamos de uma população de cerca de seis mil pessoas, distribuídas em uma região enorme, de difícil acesso e contato. Havia grupos bastante heterogêneos, alguns com boa interação com as equipes de saúde e outros mais problemáticos.

         O posto de saúde do Surucucu era famoso dentre aqueles ditos de maior complexidade. A presença de uma base do exército brasileiro no local ajudou muito no acesso a bens e serviços médicos básicos, porém gerou um batalhão de índios dependentes desta interação. Era quase corriqueiro o roubo de itens da cozinha, desde panelas até toda a comida do mês.

         Na nossa base tentávamos manter a estrutura limpa e bem cuidada, muitas vezes repintando as paredes externas rabiscadas de carvão pelos adolescentes "rebeldes" do local. Era sempre a mesma coisa: pintar em um dia e no outro descobrir que o trabalho fora em vão, pois aquela aberração - uma estrutura enorme, branca,  num mar de selva - amanhecia toda cheia de afrescos.

          Talvez exista um gene pichador desconhecido em cada um de nós e não sabemos. Povos primitivos que pintavam suas cavernas corroboram a minha teoria. Nas grandes cidades alguns fatores epigenéticos parecem dar força a este gene  e ao instinto  da expressão artística, para ódio dos proprietários de muros recém-reformados. Na natureza, uma tela em branco não se encontra todo dia, então a ocasião faz o artista.


       Numa destas tardes vagarosas, quentes como o inferno, alguém teve a brilhante idéia de parar de brigar e oferecer uma cooperação: ofereceríamos as tintas e eles ajudariam a cuidar do nosso elefante branco. Trato feito, encomendamos latas de tinta de cores variadas e esperamos ansiosos pelo dia D.

        Quando enfim chegaram foi uma festa. Jovens e adultos se entregaram à tarefa com afinco durante horas, primeiro pintando as paredes e depois os seus próprios corpos. O resultado foi surpreendente. E nós, atônitos, descobrimos que talento não conhece etnia nem lugar para se manifestar. 
 





























Abraço. E viva Santo Expedito.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Tiradentes - onde a vagareza é uma virtude

   
      Conheço Tiradentes desde que me entendo por gente. Viajávamos pra lá nas férias com meu pai, todos no banco da frente de um opala azul de três marchas, raramente ultrapassando os cinquenta quilômetros por hora. Sem cinto, claro. Voltar agora, trinta anos depois, é uma forma de recordar o passado e refazer com meus filhos os mesmos caminhos que fiz com meu velho pai.

      Tiradentes é Minas levado ao extremo. A praça é o centro do mundo. Você logo descobre que sentar na praça não é pecado mortal, muito menos perda de tempo. Curtir Tiradentes é trabalhar a ansiedade moderna do tempo escasso. Aqui tudo é mais devagar que o mundo lá fora, até mesmo para os carros que andam a passo de tartaruga para não desmontarem. Tiradentes é o único lugar onde pedestre ultrapassa carro.











        A noite é uma atração a parte em Tiradentes. Nada de boates barulhentas, carros tocando sertanejo ou extremas badalações. A noite é intimista, descolada, cool. Bater papo é uma tradição mineira e Tiradentes a sua meca. A meia luz que ilumina as ruas valoriza a impressão de ter viajado no tempo até aquele lugar único. É como estar constantemente dentro das grandes histórias e conspirações que conhecemos tão bem dos livros, mas nunca vivenciamos.

       Conhecer Tiradentes é um privilégio. Compreender Tiradentes  um desafio.







          Abraço a todos. E viva Santo Expedito!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Paraty - uma festa dos sentidos

      Paraty é uma festa para os sentidos. Praia, sol, montanha e  história num só espaço, interagindo numa simbiose perfeita. Quem adentra pela primeira vez ao centro histórico de Paraty, com seu casario colonial em perfeito estado, parece transportado a um outro tempo. Tempo onde as ruas eram das pessoas e não dos carros, tempo onde a música era para ser ouvida. Tempos aqueles onde as pessoas não eram serviçais do tempo. Outros tempos.
      Paraty é pra ser curtida devagar. É uma praia cuja atração principal não é a praia.  E pra quem gosta de montanha, dá para ter a paz com vista para o mar. Privilégio pouco é bobagem.


Barcos de pesca - Praia do Pontal - Paraty - RJ
Rio em Paraty- RJ
Praia do Pontal - Paraty- RJ
Centro histórico - Paraty- RJ


Barcos na praia - Paraty- RJ



Canoa na praia- Paraty- RJ


Casa centro histórico - Paraty- RJ


Centro histórico - Paraty- RJ

Homem Borboleta- Paraty - RJ

Casal na praia - Paraty - RJ

sábado, 12 de março de 2011

Embarcações amazônicas

Rio Purus - etnia Deni - AM
São Gabriel da Cachoeira - AM
Etnia Yanomami - Maturacá - AM
Etnia Deni - Alto Purus - AM
Comandante Sávio - Manaus - AM
Ativistas do Greenpeace - AM

Tudo por uma boa foto!

Confesso que fui eu que mandei fazer esta maldade. Em um treinamento com os novos soldados, achei que esta poça d'água daria uma foto excelente. Então pedi gentilmente aos nobres guerreiros que entrassem na água para que eu pudesse registrar o momento para a posteridade. Se alguém ficou bravo eu não sei, mas certamente a foto é boa!
Posted by Picasa